quarta-feira, 7 de julho de 2010

Quem conta um conto...

"Quem conta um conto..." é uma actividade lúdica de escrita colaborativa. É muito simples, pode ser bastante divertida e desenvolve o domínio das novas tecnologias, a apropriação da Internet e do universo da blogosfera, a leitura e a escrita, nomeadamente a noção de coesão textual.

Assim, fornecemos o início de uma história e cada leitor pode transformar-se em escritor e acrescentar capítulos através dos comentários. Não se podem fazer comentários de outra natureza, só para adicionar um capítulo. Nunca saberá quando a daremos por terminada, mas haverá um dia em que tal acontecerá!

O processo tem algumas regras:
1) Numerar o capítulo que se escreve e dar-lhe um título.
2) Não criar novas personagens indeterminadamente, por isso, forneceremos os limites.
3) Respeitar o Espaço e o Tempo, embora possam introduzir outros desde que de forma coerente.
4) Manter a coesão do texto, ou seja, apesar de poder e dever criar episódios novos, cada escritor tem de ser coerente com o "passado" da história, isto é, com os acontecimentos precedentes.

Vamos a isto?

Limites actanciais: dois heróis, dois coadjuvantes, um vilão e mais dois oponentes, figurantes diversos.

O Fantástico Mundo da Cenoura Despenteada

------------------------- 1º Capítulo - Era Uma Vez -----------------------

Era uma vez uma Cenoura, Despenteada de seu nome. Já nascera assim e não havia nada a fazer. Não com o nome. Com o cabelo todo em desalinho. Os pais tentaram tudo. Gel, sabão, passar com a mão na língua e depois pelo cabelo, mas nada, por estas terras de Lavouriz, parecia conseguir alinhar a ramagem verde com que nascera no cimo da cabeça. Os pais andavam suspeitando do seu futuro. Sabiam bem o que se fazia em Lavouriz a quem nascesse com defeito, logo, sem préstimo. O que era uma injustiça porque Despenteada tinha, até, bastante préstimo. A preocupação não lhes saía do olhar e das cabeças encenouradas. Se ao menos fosse gorda e forte, mas Despenteada nascera magra e esguia. Era esperta, o que em Lavouriz parecia não ser grande atributo!
Certo dia, estava Despenteada em plena adolescência, o sol a pique queimando a cabeça de uns e a barriga de outros, e chegou a terrível notícia. O chefe das terras de Lavouriz decidiu o destino de Despenteada e comunicou-o seco e agreste aos pais:
- A vossa coisa, hum, hum, quer dizer, a vossa filha será cenoura-de-fila!
A mãe desatou num pranto, a chorar e a gritar:
- Não, por favor, tudo menos isso!
E o pai juntou as mãos em prece e pediu:
- Troque-a comigo, por favor, mas isso não, isso é terrível!
O Chefe não se demoveu:
- Está decidido, está decidido. Ela não é capaz de fazer o teu trabalho. Não tem préstimo. O único que lhe encontrámos foi este. Ou é isto ou a lavadura dos porcos.
E com semelhante argumento-ameaça, coisa muito usada em Lavouriz, terminou a conversa.
A vida de uma cenoura-de-fila é bem difícil e dolorosa. Pode mesmo ser mortal. Ou pior do que isso, pode mutilar uma pessoa-cenoura. Os capatazes do chefe agarram na cenoura em questão pela base dos cabelos, amarram-lhos com uma corda bem forte e penduram-na na ponta de um pau que está atado ao sarilho do poço onde o burro gira puxando a água. E gira, e gira, e gira... E não pára na esperança de chegar à cenoura-de-fila que vai girando à sua frente. Por vezes, seja por engano dos capatazes na colocação do pau, seja pelo pescoço mais comprido do burro, seja pelos solavancos de andar às voltas, o burro chega à cenoura! Outras vezes a corda parte-se ou arrancam-se os cabelos e a coitada acaba espezinhada por quem tanto a desejava. É uma vida de canseiras, de dores de cabeça, de cabelos arrepanhados, de tonturas inimagináveis, de medo, de nunca saber-se o que vai acontecer a seguir. E foi por isso que todos estranharam Despenteada quando se deslocou para a Praça do Poço no seu primeiro dia de trabalho. Ia sorridente! Não sabem em Lavouriz porquê, mas eu sei e posso contar-vos: Despenteada adorava conversar!
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